“Na vida só há um modo de ser feliz. Viver para os outros.”

Léon Tolstoi

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Entrevista com Keyla Ferrari - diretora da ONG CEDAI (Campinas)

Conforme divulgamos anteriormente, a pedagoga e bailarina Keyla Ferrari, diretora do CEDAI gentilmente nos concedeu uma entrevista, assim podemos compartilhar com todos um momento especial e em suas palavras todos perceberão a grandiosidade de seu trabalho junto aos deficientes. Aproveitamos para agradecê-la por partilhar um pouco a sua história.


Keyla Ferrari Lopes, com habilitação em Educação Especial, especialista em Musicoterapia e Teatro-dança, realizados no Brasil, Argentina e Inglaterra, Psicomotricidade e Atividade Motora Adaptada. Formada em Ballet Clássico, cursou Dança Social, Contato e Improvisação em Londres – Inglaterra, onde iniciou maior integração com bailarinos portadores de deficiência física. Atualmente é mestranda em Educação Especial, pela Universidade de Lisboa.

Keyla atua com dança em instituições e escolas de Ensino Regular e de Educação Especial desde 1993, conforme consta em seu livro “Encontros com a dança – bailarinos muito especiais” ministra palestras, oficinas, e desenvolve ações de formação para profissionais das áreas de Educação e Saúde no Brasil e em Portugal, participa de conferências e eventos em que possa difundir seu projeto e fortalecer o segmento. Representa o Brasil como pessoa física e jurídica em outros países da Europa como membro permanente, face aos órgãos internacionais, ministrando palestras e vídeos conferência.

Ainda neste ano irá para a Suíça e Itália coordenar um seminário, intercambiando profissionais e pessoas com necessidades educativas especiais do Brasil e da Europa, através do CEDAI.
Para efetivar e legitimar sua proposta cadastra e integra profissionais e/ou amadores: bailarinos, fisioterapeutas, atores, pedagogos e professores, familiares de alunos (todos voluntários) para o atendimento de crianças, jovens e adultos, com diferentes condições de deficiências tais como: auditiva, física, visual, mental, Síndrome de Down, cadeirantes e outras.

O CEDAI existe há mais de 10 anos, porém como organização efetiva, há pouco mais de 5 anos. Seu crescimento qualitativo e quantitativo revela o compromisso e a relevância do projeto para a sociedade em geral, e principalmente para seus membros. Familiares, acompanhantes e os próprios alunos revelam que este trabalho possibilitou a realização de sonhos: o sonho de dançar (com os olhos, com as mãos, pernas, braços, cabeça, sobre rodas, apoiados em muletas ou andadores); o sonho de ser bailarina (o), de voar apoiado nas mãos dos bailarinos andantes e outros profissionais. Destacam que é emocionante se apresentar num palco e ver as pessoas se emocionarem, aplaudir o espetáculo e os atores, serem cumprimentados após as apresentações, pousar para fotos, distribuir autógrafos, dar entrevistas para jornais e TV, enfim, “ser estrelas”.

Atualmente o projeto atende cerca de 50 alunos de várias faixas etárias e de diferentes potencialidades artísticas e rítmicas, respeitando as limitações de cada um e aprimorando suas potencialidades.
As aulas, que são gratuitas e os ensaios, acontecem regularmente


Pedagogiando - Como e quando surgiu o CEDAI?
Keyla - Surgiu em 2002, eu tinha a intenção de criar um espaço de arte, prazer e interação oferecendo oportunidades de convivência pára pessoas com e sem deficiência fora dos ambientes das entidades, instituições e CENTROS DE REABILITAÇÃO. Ou seja, algo mais que elas pudessem frequentar não pela necessidade, mas SIM POR MOTIVAÇÃO PESSOAL.

Pedagogiando - Quais os objetivos do Centro?
Keyla - Realizar arte, dança e música com todas as pessoas independente de idade, classe social, condição física, motora, mental ou sensorial. Mas levar a beleza da diversidade através de encontros corporais, encontros de histórias de vida e exemplos de boa vontade e disponibilidade.

Pedagogiando - O que é dança integrada?
Keyla - Na verdade dança integrada não é necessariamente um conceito, mas precisávamos de um nome para que as pessoas pudessem ler e ouvir e perceber que não se trataria de uma aula de dança convencional de academia, por isto centro de dança integrado.

Pedagogiando - Com a dança integrada, o que muda na vida dos integrantes?
Keyla - Cada um dos integrantes passam pelo seu processo individual e peculiar, com suas experiências e histórias de vida, entretanto percebo sempre uma melhora na auto - estima, na postura, na maneira de se relacionar com o outro, entre outros benefícios físicos motores e psicológicos.

Pedagogiando - Fala- se muito também na integração do portador de deficiência. Existe diferença entre inclusão e integração?
Keyla - Com certeza existe diferença. mas prefiro deixar estes conceitos para mais tarde. Vou falar na inclusão do dançarino com deficiência. Pois estar incluido é antes de mais nada, sentir-se incluido aceito, querido e valorizado por um grupo, inclusão é também um sentimento de pertença e acho que nossos dançarinos sentem-se parte do CEDAI enquanto grupo, pois sem cada um deles o CEDAI não existiria.

Pedagogiando - No sentido de tornar eficaz a integração do bailarino com deficiência que tipo de ação pode ser sugerida?
Keyla - Estes dias passamos por uma experiência chata e muito triste, fomos chamados para fazer uma apresentação no evento de uma mega empresa se São Paulo com contrato e tudo. A organizadora do evento é que nos procurou e ficou encantada com o trabalho, porém quando já estava quase tudo certo para fecharmos o contrato, um diretor acima dela barrou o nosso trabalho e cancelou tudo . Sabe o que ele alegou? Colocar pessoas com deficiência no palco seria muito deprimente e emocional ele queria um grupo de axé. Isto mostra que as pessoas ainda não estão preparadas para ver e entender que dançar numa cadeira de rodas não é deprimente e nem emocional, se ele assistisse a beleza e alegria do espetáculo ele teria outra percepção, mas ele não nos deu a chance de mostrar. Sendo assim, penso que precisamos fazer mais espetáculo incluindo pessoas com e sem deficiência e mostrar qualidade nestes espetáculos para cada vez mais mudar a visão cética e preconceituosa de algumas pessoas.

Pedagogiando - Qual a vantagem para um bailarino sem deficiência dançar ao lado de um bailarino com deficiência?
Keyla - Muitas... cada um enriquece com a experiência e com a convivência com o outro. é mágico, poder se ajudar, se tocar e compartilhar emoções e afetos.

Pedagogiando - Certamente, as coreografias e também as práticas pedagógicas precisam ser revistas. Como as atividades são selecionadas e planejadas para que todos participem?
Keyla - Estamos sempre adaptando e também fazendo práticas que possam dar liberdade criativa para que cada um participe de acordo com suas possibilidades.

Pedagogiando - Como a convivência entre as pessoas diferentes pode contribuir para cada um de nós?
Keyla - Falarei por mim, OK??? Não sou nada sem eles. Amo cada um em particular, eles me fazem uma artista mais feliz.

Pedagogiando - Você considera a sociedade preparada para a inclusão?
Keyla - Ainda não, mas estamos caminhando um passo de cada vez, já melhorou muito.

Pedagogiando - O que mais a impressionou nas apresentações?
Keyla - As reações da platéia são sempre emocionantes, aplaudem em pé, são carinhosos na maioria das vezes, pois ficam encantados e querem se aproximar dos dançarinos.

Pedagogiando - Qual a sua mensagem para os deficientes, familiares e professores?
Keyla - Dancem mais, amem, sintam e vivam a vida intensamente sem se preocupar tanto com olhares alheios.

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