Por Guilherme Almeida
Está em curso em Fortaleza (CE) a aplicação do método cubano de alfabetização “Sim, Eu Posso” (Yo si puedo). A ação é uma parceria do governo municipal com o setor de educação do MST, como parte do Programa Fortaleza Alfabetizada, e deve formar 1888 turmas de jovens e adultos.
O projeto visa a alfabetização e o acompanhamento na continuidade da formação do maior número de pessoas possível. Segundo Ana Edite, da prefeitura de Fortaleza e da coordenação geral do programa, a meta é tornar a região um território livre do analfabetismo. Para isso o índice de analfabetos deve ser inferior a 4%, mesma porcentagem usada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para declarar um país livre do analfabetismo.
O sistema usado nessa empreitada foi desenvolvido por uma equipe coordenada pela pedagoga cubana Inés Relys Diaz e pelo instituto Pedagógico Latino Américo e Caribenho (IPLAC), entre 1997 e 1998. Trata-se de uma série de vídeo-aula, no formato de telenovela, que totalizam 32,5 horas de gravação.
Televisores e aparelhos de DVD são ferramentas indispensáveis na aplicação do programa. O uso das “telenovelas” em diferentes países demanda de uma adaptação cultural, mas isso não interfere na eficácia do curso.
A partir da diretriz dos vídeos, cria-se uma associação entre números e letras mais usadas, que introduzem o aluno no mundo da leitura. Tanto as vídeos-aulas quanto a ligação entre números e letras são adaptadas nos diferentes idiomas para os quais o Sim, Eu Posso foi traduzido.
Participação do MST
“A gente faz parte de um coletivo que acompanha essa ação aqui em Fortaleza. Principalmente a Brigada sem Fronteiras, composta por militantes do MST, que atua juntamente com a secretaria de educação do município nessa coordenação do projeto Fortaleza Alfabetizada com o método cubano do Sim, Eu Posso”, explica Maria Cristina, coordenadora do setor de educação do MST. A própria tradução do Yo si puedo para o português e para realidade brasileira foi uma realização do MST em parceira com Cuba.
A prefeitura já tinha boa relação com o movimento na parte da educação, e como a utilização do método cubano se mostrou eficaz em outras regiões por meio da experiência de cinco anos do MST, a parceria surgiu como alternativa de sair dos entraves que o sistema vigente de educação não consegue superar.
Um exemplo disso é o número de escolas e suas localizações geográficas, que nem sempre satisfazem a necessidade de áreas periféricas. Uma saída para esse empecilho é a utilização de espaços alternativos para as aulas, tais como associações de moradores, igrejas e outros espaços públicos ou privados que possam receber os novos estudantes.
No entanto, a distribuição dos materiais audiovisuais comprados pelo município é muito mais lenta quando o destinatário não é um prédio público. Isso atrasou o início do curso nos espaços alternativos.
Consolidação
Terminadas as 65 vídeos-aulas de alfabetização, são organizados os ciclos de cultura, que servem para caminhar no sentido da compreensão de palavras e textos. Esse é um sistema pensado pelo educador brasileiro Paulo Freire. Segundo Maria Cristina, “isso serve para dar continuidade no processo de alfabetização”. Ao todo, o processo em Fortaleza deve levar oito meses.
Ana Edite enxerga a problemática do analfabetismo enquanto um indicador e uma ferramenta de exclusão econômica.
No mesmo sentido segue Maria Cristina, ao acreditar que o analfabetismo é uma questão de classe social. “Analfabetos no Brasil são os pobres, os negros, a classe trabalhadora...”.
Segundo Cristina, a perpetuação dessa marca de opressão se propaga com uma intenção das classes dominantes, já que a falta de instrução se relaciona com a conformação do trabalhador, que não tem alternativas de melhoria de vida ou “visão de transformação social”, completa.
Fonte: http://www.mst.org.br
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