“Na vida só há um modo de ser feliz. Viver para os outros.”
Léon Tolstoi
quinta-feira, 23 de maio de 2013
A indisciplina escolar sempre foi um entrave ao bom andamento pedagógico. Hoje, porém, as escolas passam por um momento crítico uma vez que essa situação vem se agravando progressivamente. Ocorrências diárias, dentro e fora das salas de aula, refletem-se na família e em outras instituições da sociedade. Por outro lado, a indisciplina escolar pode ser vista como um mero reflexo da indisciplina generalizada em que se encontra a humanidade atualmente. Diante do caos instalado, professores e dirigentes não conseguem exercer seu papel de autoridade, sentindo-se impotentes. O detentor do conhecimento perdeu seu valor e seu lugar na hierarquia escolar, pois o conhecimento em si já não é valorizado pelos meios de comunicação de massa, com raríssimas exceções. A maior atribuição de valor é dada ao prazer individual imediato, não importa se obtido de forma lícita ou não.
Primeiramente é preciso definir o que seja indisciplina, conceito que pode ser interpretado de diversas formas. A princípio, um sujeito indisciplinado é o que apresenta um comportamento desviante de uma norma social. Dessa forma, o que é considerado comportamento normal em dado segmento da sociedade pode ser visto como indisciplina em outro contexto, dependendo das normas explícitas ou implícitas que estejam sendo desrespeitadas.
Com base nessa definição, é de suma importância verificar, então, quais são essas normas e até que ponto as normas implícitas estão claras. Muitas vezes as normas explícitas (Regimento Escolar, por exemplo) não são tão explícitas quanto deveriam ser, ou seja, não chegam ao conhecimento de todos e seu cumprimento não é realizado sequer por professores e funcionários, dando a impressão de que tais normas não têm valor. Já as normas implícitas têm, muitas vezes, relação direta com a educação recebida em casa. Assim, espera-se que o aluno saiba que deve bater na porta e aguardar permissão antes de entrar em sala. No entanto, o que se observa na prática é que tal conduta nunca lhe foi ensinada ou cobrada.
A indisciplina se manifesta em diferentes níveis, indo de pequenas perturbações (como entrar sem bater, interrompendo a aula) até o vandalismo e os atos de violência contra a pessoa física. Infelizmente, na atualidade, as perturbações são vistas como ocorrências normais e inevitáveis, considerando-se como indisciplina apenas as transgressões de maior vulto, como agressões, destruição e roubo.
Se por um lado as normas não são claras, por outro vivemos um momento cultural em que a sociedade como um todo desvaloriza as regras da boa convivência. Valorizado pela mídia é o levar vantagem, o tirar proveito, ou seja: individualismo em primeiro lugar na busca pelo prazer e satisfação imediata.
Atitudes antes observadas em uma minoria de adolescentes, hoje são amplamente generalizadas em estudantes de todos os níveis de ensino, como: apatia, conversas, troca de mensagens escritas, exibicionismo (com comentários, posturas ou roupas/acessórios), desrespeito aos horários de entrada e saída da sala de aula, atividades de lazer durante a aula (ouvir música, ler revistas, jogos eletrônicos etc.), perguntas colocadas propositadamente para desvalorizar o professor ou o conteúdo, entre outros.
Além dessas, extremamente freqüentes, também ocorrem agressões (a colegas, professores e funcionários), furtos, provocações (sexuais, racistas ou com outros teores preconceituosos), desvalorização e destruição de objetos, móveis e da estrutura física da escola, sendo estas últimas claras manifestações da agressividade reprimida do estudante.
Muito se poderia colocar acerca das supostas causas da indisciplina, teorizar a respeito do ser humano enquanto ser social, do papel da família e da escola na sociedade. No entanto, o que mais necessitamos na atualidade é de medidas práticas que possam auxiliar os professores e a direção da escola a lidar com tal problema.
Nesse ponto, a teoria psicanalítica pode ser uma ferramenta muito útil, permitindo que os educadores identifiquem mecanismos psíquicos que atuam inconscientemente nas relações sociais. A abordagem da psicanálise facilita a compreensão da dinâmica do grupo e instrumentaliza o educador para interferir nela, retomando sua posição de autoridade. Dessa forma, faz com que o professor se coloque como sujeito atuante em sala de aula e não mero objeto manipulado pelos alunos ou pela direção da escola. Ser o sujeito que atua, para o educador, é a única forma de fazer com que os estudantes também venham a tornar-se sujeitos, ou seja: de objetos manipulados pela mídia transformem-se em indivíduos responsáveis pelos próprios atos e pelas conseqüências de suas escolhas.
Conhecer as instâncias psíquicas e os mecanismos de defesa que atuam no aluno leva o educador a perceber no agressor um ser reprimido que necessita ser ouvido. Com isso aumenta a empatia e melhora significativamente a relação professor-aluno. Consciente dos mecanismos da projeção, da transferência e da contratransferência, o professor é capacitado a identificá-los na relação professor-aluno e, conseqüentemente, impedir a continuidade de ciclos viciosos do comportamento.
Fonte:http://somostodosum.ig.com.br
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