“Na vida só há um modo de ser feliz. Viver para os outros.”

Léon Tolstoi

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Criança especial precisa de educação sexual específica.



Fonte: Banco de Imagens

Desmistificar mitos e crendices sociais sobre a sexualidade e a deficiência é de extrema importância

Igor Galante

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO/SP - Se muitos pais ainda “se perdem” na hora de lidar com a sexualidade dos filhos, como fazer então quando essa descoberta se dá com crianças e adolescentes considerados especiais, dotados de variados níveis de deficiência mental? Antes de mais nada, é preciso encarar o fato de que a sexualidade é inerente a todo ser humano, independente de seu estado. O segredo é saber como lidar de maneira saudável com essa realidade. “Um dos mitos mais comuns é pensar que as pessoas deficientes são assexuadas”, lembra a psicóloga Maria Jaqueline Coelho Pinto, coordenadora do curso de especialização em sexualidade da Famerp. “Como sua mente é mais imatura, mais infantil, os pais têm a ilusão de que o filho nunca deixará de ser criança, e por isso se assustam”, completa Alessandra Regina Rodrigues, psicóloga da Associação Renascer, entidade que atende a 270 crianças, adolescentes e adultos com mútliplas deficiências. Lá, seu trabalho é de orientar não só pais mas também outros profissionais da associação, que depois irão repassar em sala toda orientação sexual aos alunos.

Apesar dos medos e curiosidades pelo corpo que se transforma e sente prazer se manifestar da mesma maneira em crianças consideradas “normais” e as excepcionais, é evidente que há diferenças, principalmente no modo como elas irão expressar ou exteriorizar essas transformações. “Uma criança normal tem juízo moral e vergonha, por isso não irá, por exemplo, se masturbar em público. Já uma criança especial não tem esse mesmo juízo”, destaca Alessandra. “As diferenciações ocorrem na exteriorização da atividade sexual do jovem. Sua conduta será mais ou menos adequada dependendo do comprometimento intelectual que ele possui, uma vez que esse déficit remete a uma maior dificuldade na organização de seu ‘eu’, e, em conseqüência, de sua relação com o mundo”, acrescenta Jaqueline. Segundo a psicóloga Raquel Nelly Cunha, da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), a orientação profissional acaba sendo mais direcionada aos pais que aos filhos. Na associação, há trabalhos constantes de orientação sexual, por meio da formação de grupos de jovens. As atividades também costumam envolver a família.

Em Rio Preto, a Apae trabalha com 350 pessoas, de bebês a idosos excepcionais. “A orientação é voltada aos pais porque eles estando bem preparados encaram a descoberta da sexualidade do filho numa boa, com naturalidade, e por conseqüência, o mesmo ocorre com a criança”, complementa a psicóloga da Renascer. “Se os pais tentam esconder e inibir, a criança vai querer chamar mais atenção por meio da sexualidade, deixando esses pais ainda mais apavorados”, diz. “A sexualidade ainda provoca grande angústia e ansiedade nas famílias. As primeiras manifestações são vistas com surpresa e medo, decorrentes de idéias que a colocam como imprevisível e incontrolável”, lembra Daniela de Camargo Álvaro, psicóloga e aprimoranda do serviço de psicologia da Famerp. “A sexualidade do deficiente mental deve ser visualizada levando-se em conta que seu déficit cognitivo lhe dificulta perceber e reagir aos estímulos internos e externos com expressão de conduta adequada e adaptada ao ambiente que o rodeia”, explica.

Jaqueline diz que os pais, por medo de lidar com os aspectos sexuais de seus filhos, acabam, muitas vezes, deixando-os extremamente vulneráveis, física e emocionalmente, sujeitos à exploração e com menos condições de usufruir o sexo responsavelmente. “A preocupação dos pais não deve ser acerca da permissão ou proibição da sua sexualidade, mas sim sobre quando, como e onde devem ser manifestadas as suas atividades sexuais”, completa a psicóloga da Famerp. Por outro lado, se uma criança excepcional consegue ser bem orientada, tanto por um profissional quanto em casa, e passa a lidar bem com sua sexualidade, sua auto-estima tende a melhorar. “Imagine um adolescente com síndrome de Down namorando, os reflexos positivos que isso terá, desde que bem orientado?”, questiona Alessandra.

O monitoramento de um possível namoro, por exemplo, é necessário, segundo especialistas, porque a sexualidade, em todo ser humano, é instintiva, e as crianças e jovens especiais não têm o mesmo nível de compreensão das pessoas consideradas como “normais”. De acordo com Raquel, na própria Apae já houve casos de meninas de 13, 14 anos terem mais de um filho. “É preciso levar em conta que o corpo amadurece, mas a mente não”, considera o sexólogo Sérgio de Almeida, de Rio Preto. Alessandra orienta os pais, como meio de disciplinar a sexualidade do filho excepcional, usar a técnica da repetição. “São seres humanos com lentidão de raciocínio, por isso a orientação e os conselhos são os mesmos que se passam para uma criança normal, com a diferença de que é preciso falar sempre, várias vezes, um, dois, até três anos, insistindo, por exemplo, que ela pode se masturbar, mas que aprenda a fazer isso no banheiro”, ensina. “Desmistificar mitos e crendices sociais sobre a sexualidade e a deficiência é de extrema importância, uma vez que os valores paternos correspondem ao da coletividade”, argumenta Jaqueline. “A maioria das deficiências não vem da ‘deficiência propriamente dita’ e sim da maneira como elas são encaradas e tratadas”.

Fonte: http://www.portadeacesso.com/artigos_leis/sex/sex007.htm

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