“Na vida só há um modo de ser feliz. Viver para os outros.”

Léon Tolstoi

domingo, 29 de maio de 2011

O papel da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no processo de diminuição do analfabetismo funcional e no aumento da produtividade brasileira

Por Henrique Montserrat Fernandez


Diante de campanhas lançadas por entidades internacionais, como a 5ª Conferência Internacional sobre Educação de Adultos (Confintea), de 1997, entre outras, os países ficaram conscientes da necessidade da erradicação do analfabetismo no mundo para que o tão almejado aumento de produtividade e a sonhada competitividade internacional em um mundo cada vez mais globalizado realmente ocorra.

Na Confintea, a Declaração de Hamburgo sobre Educação de Adultos, preconiza essencialmente:

“(…) A efetiva participação de homens e mulheres em cada esfera da vida é requisito fundamental para a humanidade sobreviver e enfrentar os desafios do futuro.

2. A educação de adultos, dentro desse contexto, torna-se mais que um direito: é a chave para o século XXI; é tanto conseqüência do exercício da cidadania como condição para uma plena participação na sociedade. Além do mais, é um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de ser um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça (…) (1999, p. 19).”

Os esforços brasileiros atuais, em especial o Programa Brasil Alfabetizado, de 2003, são os maiores que o Brasil já fez para erradicação do analfabetismo. Esses esforços, entretanto, seriam apenas letra morta, caso não houvesse a participação da sociedade civil.

É graças a entidades como a Associação Alfabetização Solidária (AlfaSol) que esse e outros programas de interesse para nossa sociedade conseguem ser implementados. Fundada há 14 anos, a AlfaSol tem se destacado como um modelo nacional em Educação de Jovens e Adultos.

Essa modalidade de ensino pode e deve ser estendida, do ponto de vista metodológico, a outras modalidades existentes.

No que diz respeito principalmente ao aproveitamento da “história de vida” de seus participantes e, em seu uso no processo de aprendizagem, a EJA demonstra sucessos semelhantes aos obtidos nos processos de etno-aprendizagem.

É notório que o conhecimento humano é uma escada construída sobre os degraus colocados por nossos antepassados étnicos e/ou culturais. O homem não precisa reinventar a roda a cada geração. Mas pode melhorá-la.

Um dos maiores problemas enfrentados pelos estudantes (e eu me coloco nesse meio quando recordo as dificuldades iniciais com números e outros conceitos um tanto quanto abstratos) é que a capacidade de exemplificação de cada professor era o que nos fazia aprender ou não os conceitos dados. Foi a partir de meus estudos sobre a história grega que conceitos como o dos teoremas clássicos ficaram mais claros. O fato de saber como viviam e como pensavam me proporcionou um maior entendimento sobre seus cálculos, que eram uma incógnita à época em que os aprendi, pois não lhes conhecia a utilidade.

Da mesma forma, um professor que não domina os conceitos culturais de seus alunos não consegue, na maior parte das vezes, fazer-se entender a contento. Não porque os alunos sejam ignorantes, longe disso, mas simplesmente porque sua realidade cultural é tão diferente da do professor, que os dois não conseguem falar a mesma língua, mesmo ela sendo o português. São os assim chamados ruídos da comunicação.

Nas palavras de Ubiratan D’Ambrosio, professor dos programas de Pós-Graduação em História da Ciência e em Educação Matemática da PUC de São Paulo:

“O Brasil destacou-se, juntamente com os Estados Unidos, pelo potencial da etnomatemática na educação. Em sintonia com o pensamento de Paulo Freire, ela demonstrou que, além da importante pesquisa sobre o saber e o fazer matemático de várias culturas, abordado nas dimensões etnográfica, histórica e epistemológica da etnomatemática, dá-se igual importância à dimensão pedagógica, uma vez que ela propõe uma alternativa à educação tradicional (2005, pág. 9).”

A ideia, portanto, não é de desprezar o saber acadêmico tradicional, mas sim de complementá-lo quando necessário com uma abordagem etnológica, a fim de aproveitar os conhecimentos dos alunos como feedback para a reestruturação do conceito pedagógico utilizado.

Dessa forma a EJA, além de ser um modelo pedagógico indispensável para vencer o desafio do analfabetismo brasileiro de uma vez por todas, também pode ser considerada uma metodologia base para a formação de alunos e professores para os níveis elementar e médio. Dessa forma, esses docentes poderão entender melhor e vencer as barreiras de aprendizagem de seus alunos. Afinal, o que se deseja é que as pessoas aprendam a aprender. Só assim o conhecimento poderá ser multiplicado e plenamente utilizado.

Isso vem diretamente ao encontro do interesse nacional em aumentar a produtividade e a competitividade do país ao nível internacional.


Sobre Henrique Montserrat Fernandez
Henrique Montserrat Fernandez é administrador de empresas com pós-graduação em Análise de Sistemas e MBA em Tecnologia da Informação / E-management pela FGV. Com mais de 30 anos de atuação profissional, trabalhou em empresas de médio e grande portes, tais como Grupo Bonfiglioli, Copersucar, Zanthus e Boston Scientific, entre outras. Foi professor universitário, além de ministrar cursos no Senac e Sebrae. Possui ampla vivência em treinamento empresarial. Atual gerente de TI da AlfaSol, é autor dos livros Falir Jamais! Gestão Correta x Crise e Evitando a Falência, além de escritor de vários artigos sobre gestão empresarial e educação.

Fonte:http://www.cereja.org.br/historias/?p=129

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