“Na vida só há um modo de ser feliz. Viver para os outros.”

Léon Tolstoi

domingo, 22 de maio de 2011

A possibilidade do professor realizar o conceito freiriano de educabilidade e a parceria com as organizações não-governamentais nas escolas públicas

Por Blog Pedagogiando

Estudar Paulo Freire não é somente refletir sobre educação. Nos textos e livros produzidos pelo autor, podemos identificar aproximações com a educação, enquanto política, contemplando a emancipação humana através da possibilidade de produção e acesso à educação por todos os cidadãos, de educação democrática e não somente para os privilegiados.

Freire, através de uma perspectiva crítica traz à tona contribuições que podem emancipar os educandos, instigando nestes um novo olhar do mundo, um olhar de re-significação sobre a sociedade e seus problemas, um olhar de quem não aceita com passividade os fatos, mas de quem busca soluções frente às diversidades, tornando-se sujeito emancipado e crítico.

Atualmente a sociedade encontra-se em profunda crise, na qual somos forçados a repensar nossas atitudes e valores, vivemos um momento histórico no qual o bloco hegemônico dominante entra em crise, frente à ameaça de um novo bloco histórico, como nos aponta Gramsci, citado por Gadotti (1998, p. 86).

Ainda segundo Gadotti (1998), faz-se mister que o professor se assuma enquanto um profissional do humano, social e político, tomando partido e não sendo omisso, neutro, mas sim definindo para si de qual lado está, apoiando-se nos ideais freireanos da necessidade de uma educação com o outro e não para o outro.

Nesse contexto, o papel do professor necessita ser repensado, posicionando-se então, não mais neutro, não mais objeto passivo do conhecimento, mas politicamente disposto a formar através da consciência crítica sujeitos ativos que visem ascender à sociedade usando a educação como instrumento de luta, de superação, de transformação dos saberes.

Freire afirma que ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho: os homens se educam reciprocamente em comunhão, mediatizados pelo mundo (Freire, 1970, Cap. 2).

Tal fundamentação apóia-se na teoria da pedagogia da libertação, definindo “libertação” como o processo histórico de construção da liberdade, de decisão a propósito de nossas vidas através da discussão e da luta contra os interesses de dominação. Sendo que, desse processo faz parte o estabelecimento de relações produtivas entre os seres humanos.

Com esta base, entendemos por educação a ação educacional fundamentada numa pedagogia problematizadora ou pedagogia da libertação, caracterizada por depositar os instrumentos da cultura a serviço da conscientização dos oprimidos em luta para superar o neoliberalismo onde o papel do professor é conscientizar-se em diálogo com os educandos no contexto de uma ação transformadora sobre a realidade social.

Para tanto adotamos como ponto articulador da ação pedagógica as questões ligadas à vida cotidiana e à luta dos excluídos em todos os níveis da sociedade, estabelecendo vínculos de mútuo enriquecimento entre a cultura “erudita” e a cultura “popular” (estando esta à margem da educação formal e sendo construída no dia-a-dia dos sujeitos), propiciando a construção dialógica do conhecimento (ligado ao cotidiano dos sujeitos) numa dinâmica de investigação crítica, isto é, sujeitos desveladores da realidade social, engajados na sua transformação social libertadora, combatendo pela crítica e a auto-reflexão o fatalismo e o assistencialismo e apostando na capacidade dos sujeitos excluídos para melhorar a qualidade de suas vidas.

Todavia, sabemos que em muitas cidades brasileiras, o acesso à educação não é universalizado, a educação oferecida é excludente, alienante e de péssima qualidade, os investimentos públicos são insuficientes e com medidas de desresponsabilização dos serviços públicos, onde a privatização caminha desenfreadamente.

Sendo decisivos, então os sujeitos políticos, como os Movimentos Sociais e as Organizações Não Governamentais. O Terceiro Setor e as Ongs sustentam políticas compensatórias do problema da miséria, da fome, da ignorância, da violência, da falta de qualidade na educação, muitas das quais decorrem do trabalho como princípio educativo.

Contudo, políticas compensatórias, assistencialistas, não enfrentarão estes problemas. Cabe, sim, um amplo e intenso protagonismo das administrações públicas com adequado enfrentamento, eficaz e eficiente dos problemas sociais, sobretudo na área educacional, vislumbrando uma educação que se queira problematizadora.


Referências Bibliográficas

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.
_________. Educação como prática de liberdade: a sociedade brasileira em transição. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2000.
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da práxis. São Paulo, Cortez, 1998.

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